segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Damien


Cap1. Prazer, meu nome é…(Parte 1)

O brilho do sol já perdia sua força com a chegada da noite, a lua já dava as caras no céu ainda azul. Olhei para baixo do alto de um prédio na esperança de encontrar a minha Lucy entre os destroços de carros e pedaços de outras mil coisas que haviam se acumulado durante os muitos anos de abandono que haviam se passado, infelizmente, não consegui encontrar nada, nada vivo pelo menos.
Foi então que decidi que já era hora de parar de apreciar a vista, de cima do antigo prédio do Citibank, agora já quase todo destruído, praticamente desabando, nada mais restava do que um dia já foi. Uma pena.

Demorei muito tempo para sair de lá, já que as escadas que havia usado para subir desabaram nos últimos dois andares, então tive que procurar outra maneira de descer. Felizmente quando cheguei no poço do elevador vi que uma trepadeira grossa cobria as paredes até o quinto andar e que os andares no subsolo estavam todos cobertos de água, uma água verde e escura, não conseguia ver nem um palmo abaixo de água, não podia arriscar um salto na água.Tive então que arriscar descer pelas trepadeiras que não eram lá muito confiáveis.

Peguei uma certa distância no corredor em frente ao poço do elevador, corri e saltei, infelizmente notei tarde demais que a trepadeira estava úmida e escorregadia.

Meus dedos deslizaram e uma das minhas mãos escapou da planta mas a outra conseguiu se firmar e desci com calma, saindo pelo terreo.

Havia ainda muita luz na rua quando sai do prédio, consegui até me ver em um vidro ainda bem inteiro do prédio ao lado do que eu estava. Eu estava sujo e com grossas manchas em volta da boca e nas mãos, principelamente em baixo das unhas, mas tirando a sujeira eu até que estava bem, tinha até um leve avermelhado no resto da minha pele, parecia saudável, coisa rara para mim, acreditem.

Eu sabia que se queria me limpar para parecer ainda mais um pouco saudável eu tinha que buscar o lugar que deveria estar mais inteiro ainda, atravessei a rua bem em frente ao prédio da Gazeta, meu destino era um pequeno e não muito importante shopping que havia ali, o Top Center, mas algo me chamou a atenção antes mesmo de entrar nele, olhei em volta, algo cutucava minha nuca, meus olhos giravam em suas órbitas procurando algo. Procurei por alguns segundos a minha volta alguma coisa que pudesse ter me deixado assim, andei alguns passos e atravessei a rua seguinte onde parei por um instante olhando no chão um pedaço de placa de trânsito que estava escrito: “ Al Joaquim Eugênio de Lima” com uma seta apontando para cima, infelizmente não havia mais nada legível nela. Parei perto de uma banca de jornal que havia ali perto, ou melhor, um pedaço de metal retorcido que estava na esquina da próxima rua.

“…apenas o fim do mundo…”

Era tudo que consegui ler em um pedaço de jornal que estava preso a um afiado de metal retorcido.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Robert Capa.

Gostaria de aproveitar a postagem deste vídeo que produzi para aula de Linguagem Fotográfica para dizer que estarei provavelmente amanhã e no máximo até sabado postando a parte 1 do primeiro cap do meu livro que até agora eu apenas o intitulei como "Damien".
Agradeço a todos pelas visitas e voltem sempre, não se esqueçam de comentar, claro.

Robert Capa.


Até mais.
Abraços.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

MASP - Exposição Pirelli

O que faltou? Acredito que mais fotos, porque as que tinham não eram simples fotos mas sim arte, obras de arte captadas, montadas e captadas, a quantidade de fotos para se olhar não foi pouca, cerca de três por fotográfo, alguns com mais que três mas a média era essa, e, para mim pelo menos, pareceu pouco, cada um tinha uma história para contar, uma visão das coisas para apresentar, uma maneira de trabalhar, de fotografar, de se expressar e pareceu por um momento que a exposição apenas introduzia essas idéias, maneiras e expressões dos fotógrafos, fiquei com gosto de quero mais ao apreciar as últimas fotos, infelizmente o MASP estava fechando quando cheguei na última foto e não pude voltar e começar tudo de novo, mas valeu muito a pena toda essa experiência e acho que pretendo voltar lá mais algumas vezes nas próximas semanas, não para apreciar as fotos da exposição Pirelli, porque já se foi, acabou, mas para apreciar arte em geral, esperando por uma próxima exposição de fotos inspiradoras.
Vamos começar pela minha ordem não cronológica, nem alfabética, vamos começar falando dos artistas que mais gostei, das fotos dos Albinos de Gustavo Lacerda, incrível a maneira que essas pessoas que nem sei dizer ao certo se são mesmo pessoas Albinas ou simplesmente pessoas bem brancas com cabelos louros quase brancos e olhos azuladissimos, mas isso na verdade é o que menos importa, o que mais importa é como aquelas pessoas sem expressão nenhuma se destacam em uma exposição cheia de cores, movimentos e alegria, como aquelas três pessoas paradas de frente para a câmera roubaram a exposição, aquelas pessoas estavam paradas e sem expressão mas diziam muito mais que outras fotos muito mais “movimentadas”, sem fazer uma careta, sem fazer uma expressão, sem estar sequer em uma posição passivel de expressão podemos ver uma certa tristeza no fundo dos olhos dessas pessoas, que ao meu ver, ainda por mais sem expressão que estivessem ainda sim mostravam tristeza, mostrava o que a discriminação com o diferente faz com a alma das pessoas, porque com certeza essas pessoas sofriam com isso e é algo que marca na alma, é incrível ver expressão onde não se tem expressão.
Marco Mendes me chamou a atenção por uma maneira um tanto sutil de utilizar as sombras, na verdade, a luz, como a luz pode ser bem utilizada para se destacar o que se deve ser destacado e se esconder o que não tem tanta importância, aquela senhora idosa com o gato e aquele banco e a janela, tenho que admitir que fiquei alguns minutos observando como tudo naquelas fotos tinha sido minuciosamente pensado e trabalhardo para ficar realmente lindo, mas na exposição também me impressionei como Alberto Bitar pode tirar fotos tão únicas e belas que para mim foi tipo: “nossa, que legal, fotográfa e ta ótimo” algo bem espontâneo e que deixou um destaque, deu uma impressionada pelo menos em mim, como coisas simples e de momento podem ser belas. Mais exemplos de coisas que aconteceram naquele momento que ficaram com uma aparência bela foram as fotos da Cia de Fotos, pessoas, passando por ali, aleatóriamente no que me pareceu ser a 25 de Março em meio a um dia bem movimentado e o trabalho um tanto similar de Marlene Bergamo, que tirou fotos do bairro da Liberdade e da janela de um ônibus, algo de momento, é aqui e agora, e ela tira a câmera da mochila e tira uma foto, ou uma dúzia, mas se ela demorasse um segundo a mais para tirar a foto tudo poderia ser bem diferente, tudo seria bem diferente, mas não foi, foi belo e com uma perspectiva única. Também única foi a perspectiva de Luiz Hossaka sobre a paulista dos anos setenta, lotada de fuscas, coisa que com certeza nunca mais veremos, fuscas dominando as vias da Av Paulista.
Maria Sampaio, Octávio Cardozo e Iedia Marques se mantiveram ao meu ver no mesmo campo, o da pobreza, em mostrar beleza onde geralmente não vemos a beleza das coisas, no meio de pessoas menos favorecidas da sociedade, seja olhando elementos do dia-a-dia, seja olhando para panelas, para o passa tempo dessas pessoas, a pintura ou até um cabelereiro, tudo há beleza se olhado de maneira certa, de um jeito que possamos apreciar a beleza que para sociedade é inexistente. Já Marcio Rodrigues foi um pouco além de mostrar a beleza das coisas que rodeiam essas pessoas, e mostrou-nos a beleza destas pessoas, de suas peles com rugas e calos e como a beleza depende apenas de ponto de vista.
Quando falamos em pobreza muitas pessoas já associam com pessoas negras, sim, de fato a predominância dessa classe econômica realmente é de negros, mas um erro é fazer esta associação, essa discriminação, foi isso que pensei vendo Buer Sá mostrando a beleza de um corpo humano e negro, como ele já coloca o negro em um patamar de corpo bem definido, corpo bem trabalhado que as pessoas de classe inferiores não tem dinheiro para ter, ele tira o esteriotipo: negro é pobre e traz para: negro, com dinheiro, saúde e beleza, sim, isso existe, e é bom que isso exista, é bom que alguém veja a beleza destes corpos, do corpo humano no geral, dos seus musculos, coisas que nem todos damos valor, eu por exemplo só penso neles quando tenho que pegar minha namorada no colo ou quando tenho que subir escadas, totalmente esquecidos pela população e totalmente lembrados por Buer Sá.
Uma das coisas que mais me manteve ocupado foram as fotos de Mariano Klautau Filho e George Leary Love, eles foram os elementos de transição da exposição, depois deles eu vi uma exposição diferenciada e com focos alternativos, em elementos distintos com um espaço pequeno de uma foto para outra, suas fotos estavam bem no fundo da exposição, já bem posicionadas realmente como se a partir dali veriamos uma exposição diferente do começo, suas fotos uma em panorama e outras bem diferentes e com efeitos de movimento foram o divisor de águas da exposição, dividiram bem, de um lado Moisés e do outro o Egito. George Leary Love disse uma coisa com suas fotos: “Há sim beleza no movimento”, e isso ele nos mostrou bem, mas apesar deles terem dividido a exposição para mim eles terminaram.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Sara's Love Song


Estava andando a noite pela rua quando de repente me deparei com uma luz, não era uma luz qualquer, logo pude notar, a luz tinha um tom avermelhado e forte, senti o medo percorrer cada pedacinho do meu corpo e ainda continuar percorrendo por partes que nem existem do meu corpo.
Não consegui me mexer por alguns segundos, a minha volta não havia nada, eu estava indo de volta para minha casa, que ficava no meio do nada e não tinha ninguém por aqui, pelo menos não deveria ter. Foi então que a luz não me parecia mais tão forte e imponente quanto antes.
Por detrás da luz notei um vulto que a carregava, ele era alto e usava uma capa e um chapéu de palha muito maior que qualquer outro chapéu de palha que eu já havia visto, estranhamente seu rosto não aparecia, a luz apenas iluminava para frente dele, deduzi então que era uma lanterna.
Estávamos ali, parados, por mais de trinta segundos no meio do nada, apenas mato e cercas de arame farpado estavam a nossa volta, o medo já tomava conta do meu corpo, claro, eu já havia ouvido histórias de uma garotinha que desapareceu depois de aparecer uma luz vermelha, elas sumiam em meio aos gritos de desespero e chamava a atenção de todos. Depois disso nunca mais eram vistas estas garotas.
“Olá senhorita.” Disse a voz rouca do velho que brotava por detrás da luz vermelha.
“Olá Sebastião.” Logo reconheci a voz do porteiro da fazenda, fiquei aliviada e feliz, claro.
“Não está meio tarde pra senhorita tá andando sozinha por essas bandas?” retrucou Sebastião abrindo a porteira.
“Tive que visitar Jaime, ele tava muito doente até eu chegar lá.” Cocei a cabeça entrando na fazenda. “Acredito que foi coincidência ele melhorar depois que cantei para ele.”
“Não acredito e coincidência não senhorita, suas musicas sempre fizeram muito bem pro povo das redondeza.” Disse ele em um tom gentil, logo percebi que ele no fundo não acreditava no que dizia mas achei melhor ignorar.
Disse a ele que era besteira dele e segui para casa o mais rápido que pude me indagando porque Sebastião estava com uma lanterna vermelha.
Não consegui dormir aquela noite pensando sobre Sebastião, ele sempre dormia em um casebre perto da porteira caso precisasse espantar os cachorros que andavam pela estrada, talvez seja por isso que ele carregava a luz vermelha, mas ainda sim era estranho.
Decidi então ir averiguar, afinal, não iria me conter com aquela coisa cutucando a minha nuca enquanto eu estava deitada, algo errado estava.
Saí correndo de casa, adorava correr na chuva e esta chuva estava com certeza castigando a plantação de meus tios.
Quando cheguei na soleira da porta da casa de Sebastião eu fiquei por um tempo parada olhando para dentro pela janela tentando ouvir alguma coisa, felizmente eu não tinha problemas em incomodar as pessoas tarde da noite, todos ali gostavam muito de mim e ficavam felizes em me ver, mesmo que em horários infelizes como este.
Quando entrei de fininho pela janela aberta da sala (não sei porque não achei estranho na hora uma janela aberta no meio de uma chuva torrencial). A casa estava encharcada e cheia de goteiras, não tinha muita coisa também, nem luz direito havia, o lampião que sempre era deixado aceso na frente da casinha estava apagado e a luz que havia mesmo vinha da fraca luminosidade do poste em frente a casa.
Descobri então que não tinha ninguém ali, nem Sebastião e nem sinal de nenhuma horripilante lanterna vermelha.
“ME SOLTA! ME SOLTA” ouvi um grito vindo da porta da frente e tentei me esconder o melhor que pude.
“Porque tá fazendo isso moço?” disse a voz chorosa sendo arrastada pelos cabelos.
Sebastião nem respondeu a pergunta, abriu uma portinha escondida que dava para uma escada que escondia no seu fundo e escuro fim um mundo de coisas que ninguém gostaria de conhecer.
Fui atrás deles é claro, talvez a decisão mais errada que já tomei em minha vida até hoje. Poucos degraus depois eu tropecei não foi uma queda como aquelas lentas que vemos tudo acontecer devagarzinho e dai você se estatela no chão e se machuca e chora e se levanta e se cuida, foi mais do tipo de queda que não se nota que está caindo até acordar depois de ficar inconsciente por alguns minutos pelo menos e com aquela bela dor de cabeça e galo brotando entre os fios de cabelo.
Era uma sala suja e escura, mas eu não era a única ali amarrada em um canto da parede, era uma pobre garotinha com longos cabelos loiros e olhos verdes, não devia de ter nem quinze anos.
Se eu sabia de algo, esse algo era uma música, sabia da música, sabia do bem que ela fazia até mesmo ao coração mais rancoroso e murcho, exatamente o tipo de coração que sentia batendo no peito de Sebastião.
“Se não tivesse vindo aqui senhorita, eu não precisaria fazer o que terei de fazer.” Disse Sebastião em uma voz calma e tranquila.
“Não há mal nesse mundo que possa fazer a minha pessoa Sebastião, sabe disso.”
“Não acredito em contos de fadas senhorita.”
“Não se é preciso acreditar Sebastião, não é preciso nem entender, só é preciso ouvir, me ouça Sebastião.” Disse por fim antes de começar a cantar.
Não era uma música de amor, ou de esperança, não era nem uma música, nada rimava, apenas as batidas do meu coração com as de Sebastião, indo lentamente, mais devagar, mais devagar, mais devagar…até…parar, até a maldade no coração de Sebastião morrer e parar.
Não tinha mais gritos, não tinha mais medo, nada tinha onde um dia tinha muitas coisas, nada havia de mal em local nenhum.
Apenas amor, amor de Sebastião por mim, pela moça presa ali comigo, pela vida, por tudo que havia nesse mundo.
O amor cura, de todos os males, de todas enfermidades e de tudo mais que possa maltratar o corpo ou a alma.
Anos se passaram, e sei, que mesmo depois da minha morte o pequeno povoado de Falcão, na fronteira do Rio com Minas, a minha lenda, a lenda da Canção de Amor de Sara Winter, a canção da cura por amor, pelo amor, iria ali durar mais mil anos e ainda sim teria alguém que se lembraria do amor de Sara pela vida.